Almas bastardas e a Índole

Não negue que muitas vezes és menor que a tua monossilábica queixa.
Quantas ocasiões em que te vi na forca, e a mim também.
Ninguém estava lá para nos salvar. Salvar a ti, criança!
Todos sentimos a falta de alguém.

Tivemos de tudo da vida: dinheiro, fama, e momentos de ira!
Escondemos segredos, com pernas abertas e boca trincada,
Rejeitando a verdade que poderia ajudar a amar nossa dor.

Por que somos assim, egoístas e vingadores?
Por que não conseguimos atenuar as falhas dos outros?
Somos falhados em toda sorte, somos perdedores, ainda que ganhemos.

Culpamos nossos pais, e toda descendência, enquanto nos redimimos ante a face da morte.

Mas por que nossos erros são creditados aos erros de quem já se foi?

Seria o trauma de um filho, tão grande assim?

Deveríamos amar e honrar nossos pais. Entretanto, somos frágeis filhos da dor!

Acusamos a quem nos pôs no mundo. Revelamos suas falhas. Nós o odiamos!

Somos tão jovens, e é nessa ocasião que percebemos que nossos pais também foram jovens,

E, precisamente nesta fase, sonharam conosco, filhos bastardos do seu amor.

Por conseguinte todos os pais erraram, ou, jovens demais não nos assumiram?

Grandes pais. Mestres em música, doutores, professores… E sempre atores.

Eles mentem, já que também não dominam a verdade. Apenas procriam-nos, a nós filhos!

E, no resumo da vida, filhos tornam-se pais. Avós. E a mentira continua.

Índole passa de pai para filho. Geneticamente cruel seria a natureza?

Mas eu acho, lá no fundo de mim mesmo, que eu poderia voar a sós,

Se não fosse a obrigação de sermos filhotes,

Nem sempre de boas águias. E nem sempre vivemos a infância a comer no bico deles.

Eu não quero ser filho. Quero ser mais que um pai.

Eu quero ser só, e, sozinho, entender a minha Índole!

Sobre o livro Índole, de Kito Mello.