Arthur

arthurEstava sentado à beira da ferrovia. Triste, esperava o trem, na estação mais famosa do Rio: estação de um simpático subúrbio. Madureira.

Era cabisbaixo, barba por fazer. O menino, vendedor de amendoim torrado parou.

_ Que rei é este? Andou bebendo? Parece até uma pessoa normal… como eu!

Arthur o olha sem interesse e sussurra:

_ O que tu entenderias de realezas e pobrezas? Acaso queres ser meu conselheiro?

_ Eu queria! – olhos brilhantes.

O homem o olha com mais atenção:

_ Então me digas: de que vale um rei sem sua rainha?

O menino coça o queixo sujo de casca de amendoim:

_ Ih! Deve de ser barra pesada. Ela foi embora? Vazou?

O rei:

_ Sim, a rainha se foi. Quem a levou, provavelmente está muito feliz, pois jamais se verá morena mais culta e formosa por estas bandas.

_ Sim, meu rei, é verdade.

Ficam em silêncio. O trem chega. Arthur se levanta e despede-se do “conselheiro”. Porém, subitamente se volta e pergunta:

_ O que você faria em meu lugar?

O menino, pigarreando o amendoim:

_ Pra você ficar sofrendo desta maneira por alguém que não te merece, acho melhor voltar a ser o rei Arthur de sempre, financiar a escola de samba para o próximo ano e descolar um monte de gata. Rei, hoje em dia, não é como naquele tempo não, chefe.

O trem parte e o homem fica pensativo.

E pela janela vê imagens de seu amor indo embora. Teria uma nova vida, pois era um bom rei. E para boas pessoas, certamente há bons amores.

Rei é rei.