Há muito tempo eu não o via. Com o corre-corre da vida, muitas vezes deixava de visitar os meus. E isso deveras me entristecia. Eu me aquietava em um canto e chorava. Porém, não deveria ficar neste estado de espírito. A alegria era o meu remédio, e eu precisava aliviar os corações dos amados por mim. Meus amigos, companheiros que eu tomava conta, de certa forma. Entretanto, eu tinha a sensação de ter falhado desta vez. É que, ao contrário do que se espera, amizades às vezes falham.
Este companheiro, eu não via há tempos, como disse antes. Da última vez que nos vimos, se não me engano, fora em seu casamento. Um dia feliz, reluzente. Numa tarde ensolarada, duas pessoas disseram sim, diante de Deus. Por falar em Deus, noto, assistindo a televisão, percebo nos noticiários, que muitos desacreditaram das coisas lá de cima. Um número alarmante se afastou Daquele. E com esse amigo sumido não estava sendo diferente. Resolvi procurá-lo, com minha alma e coração abertos. Eu sentia saudades. Algo me possuía de alegria e misericórdia. Minha tristeza era alegre, após esta decisão. Peguei o avião, e voei nas asas da esperança. Eu reveria meu companheiro.
E se ele não se lembrasse de mim? Já fazia tanto tempo. Todavia, eu arriscaria. Voaria dias e noites, se preciso fosse, mas encontraria aquela alma em algum lugar do mundo. Eu podia sentir que o amigo necessitava de umas palavras. E, ainda que ele houvesse me esquecido, eu tocaria sua mão, e daria ao seu coração solitário uma massagem, com brisas de amor e ternura.
Voei.
No percurso, olhava as aves, as florestas, e muitos rios poluídos. Percebia multidões afoitas atrás de empregos. Confuso, me perguntei se este mundo ainda teria jeito. E mesmo sabendo a resposta, ficava estarrecido com as ruas sujas de eleições políticas; as almas sujas de ingratidão, os becos do tráfico, vermelhos de violência e solidão. No notebook, contabilizava as estatísticas: pedofilia, e toda sorte de enganos sexuais faziam do homem um serviçal do Mal. Companheiro meu, outra vez chorei seco, pois o vento levava as lágrimas, enquanto meus punhos cerrados controlavam a fome que sentia. A sede de ir-me embora, talvez para sempre. Contudo, eu precisava encontrar, antes, o meu amado amigo. Ele estava só. E isso eu não poderia aceitar.
Voava…
Quando lá cheguei, emudeci ao vê-lo. Algumas surpresas o detiveram em estado de tristeza. Acontecimentos para ele inexplicáveis. Distanciamentos e separações o atormentavam. Meu amigo estava com a alma doente.
Então, saímos para beber algo. Entre uma cerveja e outra, falhei-lhe de morte e vida. Céu e esperança. Muito me foi gratificante vê-lo sorrir candidamente. Novamente. Era lindo ver o meu querido.
Hoje, estou voando de volta para minha morada, mas resolvi que não tiro mais os olhos dele. Seu coração é bravo como o leão; seu espírito, resistente como rochedos. Vi nos seus olhos, o brilho de um guerreiro.
Desta forma, viajei em paz, pois Antônio era bem guardado. E ficou certo de que tinha um amigo especial ao seu lado. Ainda estou de ressaca. Porém, dentre tantas coisas ruins, não achei tão perverso tomar um porre com aquele homem.