PAZ E HORROR

Agrego nas entranhas todo um desejo místico, com simples e ingênuo sonho que não pode ser realidade. Desta forma, encontramos – através de muitos caminhos – portas, saídas de escape para sanar a dor da verdade cruel e mítica. Nada é tão hediondo que não possamos deixar mais complexo do que nossa própria experiência possa sentir. Nos calabouços de toda condição humana, prescrevem-se leis de todo o universo. A nós nos resta tão-somente a dor real da passagem de toda gente pela terra viva. Depois, apenas a morte a nos trazer prazer e alívio momentâneo quando ainda não é nosso cadáver nas catapultas da alma carrasca que domina e sempre dominará as espécies do mundo conhecido.

O Antianticristo quem lerá?

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Nódulos enfurecidos, entranhados entre os neurônios dos pesquisadores e dos filósofos sem fundamentos, que não explicam por que ainda se fala em Freud e parnasianos poemas que fazem nosso dia-a-dia.

Por quê?! Eu nem queria isto pra mim, essa miséria física, limitações materiais, enquanto o céu vai longe e alto e estúpidos somos nós aqui, e nem queríamos nascer assim. Sabemos porque sabemos e nada fazemos, já que o mais importante é levantar o glúteo do sofá e constatar que a geladeira tá cheia.

Repleta de coisas para comer. Obesos são seus dias, entristecidos no cair da tarde apocalíptica, que por Adão e Eva, danou-se o mundo inteiro.

Mas você ainda se acha, porque tem grana e carro e é jovem e não percebe que está tão morto quanto eu, à beira do abismo da finitude, porque tudo acaba, sabias? Ó, medo da chuva, do tempo, do relógio que há de despertar um dia!

Teus cabelos estarão brancos, e na memória, pouco mais de umas tantas lembranças, tolas lembranças de nada.
Eu nem queria ser assim, tão mortal, tão pouco. Nada mais faria sentido, não fosse Deus falar com a gente no metrô e nas esquinas da cracolândia. Deus não usa droga e eu nem sei por onde começar falar com ele sobre vocês, meninos.

Pensamentos invisíveis, que usam jeans e ainda compram cigarros e maçãs. Eu nem saberia por onde começar. Ler O Anticristo foi muito fácil e chique na época, como elegante foi ler Oscar Wilde – a vida é muito importante para ser levada a sério – , todavia, o livro Antianticristo poucos lerão.

Imensas asas, provocando vendaval quando as células se agitam diante do Rei, enquanto rói o rato do tempo, a mocidade dos teus dias, embora seja velho o velho Rei, o mundo ainda se agita nas espátulas do liqüidificador…

Mexem no meu bolso, bolinando crianças, como és medonho! Olho de tigre, voz de leão, ruges ao léu, pois longe está para ti, o céu. O mundo vai acabar?! Pois para ti ele já não há. E aquelas asas ao vento levam embora minha esperança.
Eu vou morrer.