Antiga e maravilhosa

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Nostálgico

Tudo já foi melhor.
O Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa. O que eu posso dizer? Ela, a minha cidade, ainda é uma beleza. Jardim Botânico, Santa Teresa, Ipanema, Prainha, Jacarepaguá. Centros culturais. Teatros, muitos teatros e cinemas. Shows na praia de Copacabana. Poetas, cervejas e orações no fim da tarde. O Rio é lindo. Talvez, e só talvez, sejamos apenas um reflexo de um mal entendido: Que parte, nós, homens falhos, não entendemos de “nos amar uns aos outros”? Porque a violência e o descaso com vidas humanas ultrapassam as barreiras cariocas. As fronteiras. Mundo a fora, o homem tem matado homem. Crianças estão sendo aliciadas, abusadas, beijadas à força. Antigamente, não existiam internet e nem Mc’ Donalds. Não havia sexo perigoso, e autoridades eram respeitadas. Tinha que tirar nota boa e ir para a faculdade federal. Violência? Era menos, exceto a fase ditadura militar na América. Dormia-se com tranqüilidade, não se sabia o que eram estampidos. Tiros. Sangue. Podia namorar até tarde na praça. No cinema. Sem drogas, a alegria era genuína. Bons tempos o planeta viveu. Não deveria ser assim.
Mas, tudo passa…

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Suicídio

Para o brother Rafael

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I

O médico o fitou por longos minutos. Silêncio total. Paciente pálido, dedos nervosos. Ricto de dor. Psicólogo corado, tranqüilo, sereno.

Júlio César, o foguete, assumiu. Vencido pelos argumentos, declarou:

_ Oquei, doctor. Eu me precipitei. Mas e agora?

O médico levantou-se. Andou com passos suaves pelo recinto. Parecia flutuar. Júlio arrepiou-se.

_ Engraçado. Quando eu estava lá, depois de usar crack, maconha e cocaína, eu tinha essa sensação. Sabe, de voar, ver todo mundo flutuando. Mas aqui, de cara limpa… mó doideira, hi-hi.

O médico, de cabelos lisos, longos e branquíssimos, olhou para seu pescoço. Tocou nas cicatrizes deixadas pela faca. O jovem esquivou-se discretamente. Riu:

_ Tarde demais, doctor. Eu te disse.

O médico, com um longo sobretudo de linho, bem fino, deu uns passos pela sala. Inesperadamente falou:

_ Vou até sua casa. Preciso ver tudo de perto.

Surpresa de Júlio:

_ Não há mais o que fazer. Algumas coisas não têm jeito. De morte eu entendo. Lá na favela, já vi muito cair. Depois que o espírito se manda, um abraço! Ressuscitar não é papo pra mim. Nem to aí pra Deus. Pra dizer a verdade, nem pro diabo. Minha pistola é quem me guia ha-ha-ha.

O doutor, com expressão séria:

_ Irei e verei o que posso fazer.

_ Por mim, nada. Mas pode dá uma olhadinha na Pâmela. E no moleque. Ela, com aquela bunda enorme, vai esquecer de mim rapidinho. Mas o moleque, eu queria que fosse diferente com ele. (Tristeza inesperada).

Médico, tirou o sobretudo:

_ Verei o que posso fazer.

De repente, num piscar de olhos, sumiu. O rapaz fechou os olhos, tamborilando no braço da poltrona do consultório. Sua palidez crescia, assim como seus movimentos ficavam cada vez mais lentos. Estava desfalecendo.

II

Quando chegou ao barraco do paciente, o homem de branco seguiu direto para o banheiro. Lá estava o corpo do Júlio. De fato, não tinha mais vida. Ele não mentira. Um corte profundo o secara. Todo o sangue parecia ter saído por ali.

Balançou a cabeça com tristeza. Abriu a porta, sussurrando: Tarde demais.

Quando dobrava a esquina, ainda ouvia a gargalhada cruel: Mais um!

Enquanto isso, a polícia procurava as drogas na casa da namorada. A Pâmela.

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Quando uma sociedade deixa matar crianças é porque começou seu suicídio como sociedade. [ Betinho ]

Chuvas

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Num dia como o de hoje,
Eu poderia falar de qualquer coisa.
Poderia fazer qualquer coisa.
Errar, acertar. Errar de novo.
Fazer um bolo ou tomar uma batida.
Entretanto, insisto em ligar a televisão.
Só depois me dou conta de que estou sem tv a cabo.
Tarde demais. Estatísticas o comprovam.
Morreu mais um. Um aí. Deve ser preto e ladrão.
O ibope prefere os sádicos e as crianças.
Tudo estatística. E vaidade.
Quando parar de chover vou querer um namorado.

Antigo

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Sabendo das limitações e do copo vazio longe do filtro, as pernas, às vezes tremem de cansaço, desânimo. A sede podemos saciar, vez por outra, numa límpida e genuína vontade de gritar.

Um grito surdo. Para muitos, desnecessário. Entretanto, agoniza de véspera, a redenção tão difícil. A carne resfria na chuva. Um corpo é arrastado nas curvas dinâmicas de um tufão. Maremoto. Mar é morto.

Nas dívidas a pagar, os evangelhos e as rugas de Metusalém, efe eme i de um Brasil soberano. Prostitutas mirins. Inferno na terra. Ou, simplesmente inferno. Acabou. A rapadura é doce, mas é dura…

Nordeste, paraíso das meninas de dentes podres, miséria com o padre Cícero, e o espírito dorme. Ronca atrás da porta do esquecimento. Resta minha alma, ó minh’alma encardida sem sabão, só bolhas de um champanhe azedo.

Tudo pode ser falsificado. As companhias de seguro e os correios. O que têm em comum?

A mulher entrou insegura e olhou os selos nos correios. Regularizar o cê pê efe e provar que ainda é viva. Mas suas pernas andam flácidas. Suas noites andam escuras. Ela está só, constata o carteiro galante.

Diz, sorrindo: Ajuda, madame? Ela ri, docemente e mente: Sim.

Dias se passam, o pagamento cai na conta. Reajusta o cinto que a grana aumentou. Comprar tinta suvinil e reformar a sala. Mais o quê? Tarde demais para um sobretudo de couro, sobretudo pelo calor que faz. Rio de janeiro. De janeiro a janeiro tem praia.

O aumento é bom. O chefe, que bonzinho. Uma arma, talvez. Com uma arma, fica mais fácil convencê-lo. O rapaz: Me convencer de quê? Ela, pefumada em flores: Fazer amor.

Ele enrubece como um rapaz do interior: Tem que casar? Ela: Temo que sim. Esqueçamos. Mas ela olha para sua igreja ao longe e se vê em um deserto. Pega o comprovante. O cê pê efe fica legal em dois dias. Até lá eu ando viva. Valeu a pena regularizar o documento.

Este é um documentário. O rapaz muda de idéia e casa. Ela muda de idéia e fica viva. Dois cê pê efes, duas escovas de dente. Amém.

Conto rápido

dreamcatcher

Trágico

Era tarde demais. Sem chaves, Oneida entrou no apartamento do vizinho. A porta ficava sempre aberta. Péantepé, vasculhou o armário. Pegou um cobertor e deitou ali mesmo, no chão do quarto. A cabeça rodava, a poesia arrotava. Finalmente dormiu.
Sonhou com o vizinho. Um senhor muito bom. Honesto.
Entretanto, não esperava aquilo dele.

Conto rápido

Computador
A Moderninha

Ela passou as mãos pelos cabelos. Tossiu. Levantou a saia e sentou ao vaso. Incrédula com o ocorrido. Estivera sonhando? Fornicando? Talvez babando no travesseiro. Banho. Perfume. Email. De novo. Queria de novo.
Olhou o calendário no monitor. Tantos meses assim? Tão rápido. Tão triste.
Desceu as escadas. Morava no segundo andar. Entrou na padaria. Pão doce. Boca doce. Vermelha. Fresca. Ávida. Sete meses? Saudades. Falta de vergonha, mulher!
Aquilo começara com um papinho bobo. No meu blog ou no seu? O amor é ridículo, Fernandinho! (já falei isso?).
Acendeu o último cigarro. Pararia com aquela merda. Sorriu para o mundo.
Na porta da padaria, olhou para ele. Que lindo. Fortinho, hein. Deixou o isqueiro de prata cair, de propósito.
(Será que ele tem um blog?)

LEI do LULA

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Este aí é o Lúcifer. Ou melhor, hoje, depois de milhares de anos, passou a ser conhecido como Satanás, que significa adversário. Dependendo do ponto de visão, ele pode ser considerado parceiro, amigo, mestre. A conotação adversário, por exemplo, é pertinente a quem está do lado oposto. Se há adversário, significa que há dois lados.

O outro lado é Deus, o Todo-Poderoso. O que criou os céus e a terra, com tudo que há neles. Entretanto, para Satanás, Deus, seus anjos de luz, querubins, e seus seguidores na terra (homens), é que são seus adversários.

Teologicamente, ou melhor, do ponto de vista antropológico, não convém, por medidas cautelares da sociologia, que o homem por si só defina ou redefina o que certo e errado. Contudo, existe uma característica um tanto misteriosa pertinente à nossa existência, que é chamado pela psicologia e outras ciências de inconsciente coletivo.

Está contido num lado do cérebro humano há gerações. Alguns conceitos imutáveis de certo e errado, que vem associar-se espontaneamente aos mandamentos de Moisés. Isto é uma conotação do bom adversário. Não significando, todavia, que o homem há que definir-se: Deus ou Satanás.

O homem, ao contrário dos espíritos, convive, desde sua criação, com as moléculas da inconstância. Dubiedade faz parte do caráter humano. Dúvidas e crises existenciais. Nem mesmo um dos apóstolos de Jesus Cristo, o Judas Escariotes escapou te tal ameaça. O caráter não pode ser definitivo sem treinamento espiritual.

Fica claro, ao menos para mim, que a dificuldade que encontramos em aceitar Deus como mantenedor de nossa existência, talvez seja a dose excessiva de liberdade, o livre arbítrio pertinente à raça humana. Independente da religião, haverá nela o bem e o mal. É possível encontrar pessoas boas nas religiões mais dúbias em seu caráter formativo, como também, a exemplo de Judas, o mal habita em toda parte.

No final das contas, acredito que uso de imagens são de pouca valia. Já temos a propensão a crermos até em pedras e gravuras. A ilustração acima é só para somar ao post.

Ghandi teve um sonho que cresceu. Hitler também.

As novas políticas brasileiras apontam para uma guerra de religião. Desafetos do presidente Lula que não se sabe se está com os evangélicos ou com os umbandistas. De alguma forma, esse Deus que a tudo criou não está contido nesses homens dúbios.

Com relação a imagens, bom advertir que a gravura acima, segundo os Evangelhos, comete um erro – a chave que Satanás segura em sua mão não mais lhe pertenceria. Teria este sido derrotado pelo leão de Judá, que tomou-lhe a chave da vida e da morte, o que garantiria a salvação do homem.

Respeito as religiões. Da evangélica, mesmo não entendendo o Bispo Macedo que, dizem, destina quarenta por cento do dízimo arrecadado à TV Record – a qualquer manifestação. Porém, levantam-se dois lados dentro da política brasileira. Deus versus diabo?
Aguardemos.