Direi de nós, todos nós, animais que nada.
Somos a perfeição imperfeita.
E depois de Kafka, a humanidade ficou diferente,
o século vinte amanheceu em nós de forma perfeita e romântica.
Direi de nós e não de mim, que flutuamos numa atmosfera
chamada arte e que depois de Kafka, esqueci meu pai. E você?
Direi das estrelas que vagam, cada qual tem seu nome,
mas eu sei o meu e o teu. Estou falando de nós.
Da árvore que não cansa de dar frutos em nós,
nós somos assim, seres extraordinários. E fazemos arte.
Uns de nós escrevemos. E como é bom escrever. Melhor ainda depois de ser Kafka.
Eu não falo de mim, mas de nós todos, poetas,
dramascarados, escravos da poesia, romancistas… e contos!
Muitos contos. O Processo começou a ensinar,
vamos aprender mais, seguir os bons. Deitar a cabeça em travesseiro de madeira, morrer e viver de novo, escrevendo com o corpo e a alma.
Não falo de mim, falo de nós, escritores mortais de internet, o que faremos com Kafka? Abrimos um blog para ele? Gregor Samsa é editor, inventor de almas.
Precisa-se de Kafka. Correm os Processos.
Estamos condenados. Não sei escrever como Kafka. Falo por mim.
Se estou condenado, não estou somente condenado à morte, mas também a defender-me até a morte. (Franz Kafka)