Às vezes é cruel estar por aqui
em busca de não se sabe bem o que é bom
ruim ou perfeito demais.
Como se fantoches fôssemos, assombrados
com a perspectiva de viver cada momento
nas intrínsicas curvas da vida
nas sádicas investidas do destino
nos amargos porões do espírito
belas artes, pobres pintores, musas
doentes e magras pelas feridas da solidão.
As ruas paralelas, os caminhos sinistros
os amores vários e amor nenhum.
Tanta coisa pra fazer e tanta grana pra contar
estar de costas ao senhor da carne
estar ausente em sonhos e partículas, não estar…
Com que desejo pode-se amar alguém
com que fidelidade?
Por que tudo passa tão rápido
que nem dá vontade de lembrar
o que foi feito na noite passada?…
o que foi dito no momento da fuga
e como não pode na vida nem na morte
falar uma vez sequer da felicidade?
óbvio está claro – ela não existe.
O que existe, uns caminhos a seguir
umas bocas para beijar e dormir
junto de quem está tão longe
que escuta-se com ferocidade
o ódio que mora só em quem é humano
somente em corpo de mulher que ama
e odeia a vida como ela é.
Está chovendo fogo em corações
está escuro e nas montanhas
não há ovelhas e nem pastor.
O sábio é um arbusto verde e silencioso
uma meia lua em busca de um sol se pondo
um beija flor sem rumo, esperando
o perfume da estação perfeita
sem química ou versos fúteis
desprovidos de canção sofrida.
Somente o sofrimento imuniza a alma
e unicamente corpos trocados reanimam
o próximo destino, este nem tão vilão
dono de nosso sexo, do nosso prazer
do nosso frustrado amor.
O destino que não há
O destino que faz-se em livre arbítrio
o próximo passo que se dá, este é o comandante
este decide na hora se vai ou fica.
Se for não faz amor, não ri – o que é cruel.
Mas se fica, sabe que de novo trovoadas
ruirão em poucas noites mas coração é assim:
Diz que não quer mais amar até
virar a página e escutar alguém chamando
e tolo sai correndo
como se amnésia houvesse
ou se destino de coração é mesmo este
leviano e egoísta buscar em cada página
um amor que o faça dilacerar
tapando um buraco com outro rombo
um calor pra esquentar o frio.
Enquanto isso isto o artista continua
pintando seu quadro, criando formas cada vez
mais nítidas, mais eróticas
do rosto do ambulante coração
que num momento goza cantando
e no seguinte, de novo escolhe
o trem na ferrovia e sai entristecido
para descer, quem sabe, na próxima estação.
E são quatro as estações e ele o sabe
então, cansado, cochila no vagão de trás
enquanto o trem não pára…