A minha vizinha, eu via da janela, cismou que seria uma blogueira. Intelectual. Séria e romântica.
Aprendeu com a filha a mexer na internet. Caiu no chat, no vírus, spams e tudo que tinha direito.
Começou a visitar blogs e sites. Ela queria ser lançada como uma sumidade na rede.
Fez uma lista de assuntos interessantes: música, notícias femininas, psicologia, literatura. Sim! Falaria de livros! – decidira.
Quando a filha chegasse da escola, daria a ótima notícia. A garota, mal humorada, espinhuda e reprovada no ano letivo, em português e literatura, finalmente chegou.
_ Minha filha! Tenho novidades! Vou escrever sobre literatura!
_ Mãe. Não começa. Tive um dia ruim na escola!
_ Você não está entendendo! Vou ser blogueira, já visitei um monte de blogs e sites que falam do assunto.
A adolescente olha para a mãe como se olhasse para seu pior inimigo. Não escondendo a raiva:
_ Como você pode escrever sobre livros se você não lê?!
_ Já pensei nisso também. É muito simples: Eu copio resenhas e posto em meu blog. Sua mãe é esperta, garota!
A menina pensa em voar no pescoço dela. Pondera.
_ Depois conversamos. Fui reprovada em literatua e portugês. Não li a merda do livro de Machado de Assis!
A mulher, nas nuvens, continuava:
_ Já estou decorando um monte de nomes de escritores famosos. “Machado de Assis” você disse?… É aquele português de poesias?
A menina cospe fogo.
_ Não, mãe! Esse é o Fernando Pessoa!
_ Não importa. A partir de hoje sou uma intelectual!
A filha joga a mochila no chão e começa a chorar de raiva.
A mãe, ressentida:
_ Você só pensa em seus problemas. Passei a vida inteira cuidando dessa casa, de seu pai que já morreu, e morreu tarde, o traste…
A garota não aguenta mais:
_ Mãe, foda-se se você cismou que vai deixar de ser burra! EU REPETI DE ANO!
A mulher corre para o computador, embevecida com seus projetos.
_ Pára com esses palavrões, menina! Isso não é educado!
_ Mãe, eu já tentei de tudo, mas não tem jeito. Eu realmente te odeio!
_ Filha, já ouviu falar em Platão? Cecília Meireles? Daisy Carvalho?
_ Essa última não é ecritora, meu Deus!
_ Mas eu li o blog dela!
A garota avança para o computador e o desliga:
_ Mãe, você nunca vai ser blogueira de literatura. Você sabe tanto quanto eu!
_ Errada, sou mais inteligente. Eu sempre colei e me dei bem. Seu avô jamais ficou sabendo.
A garota começa a gritar.
_ Chega! Chega! Você é burra, mãe. Sem noção. Maluca mesmo!
A mãe, olhar vago.
_ Pensando melhor… vou começar com a Bíblia. Essa eu conheço, fui criada…
_ É o apocalipse! É o fim! Socorro!
_ Filha, escute… Seu pai nunca foi corno, sabe…
Olhos arregalados:
_ Do que você está falando?!
_ Você está revoltada porque acha que matei seu pai do coração…
_ Mãe, mãe! Você surtou. Vou te internar.
Dias depois, a mulher, com um notebook, escreve seus pensamnetos, num sanatório das redondezas: “Tudo porque eu queria ser blogueira…”
Isso é que dá andar com amigos inteligentes e técnicos heheh… Marcelo, essa é uma das minhas ‘rapidinhas’. Tem elementos autobiográficos e uma dose de um veneno que está chegando: minhas famosas brigas com os livros, apesar de ter lido bastante, vou morrer com a sensação da ignorância. Como disse Frank Zappa, há tantos livros e tão pouco tempo…
Não liga, isso aí não é literatura hehehehehe! Feliz ano novo, autor!
Tem uma ideia muito boa no seu tópico, pode ser uma boa critica a tentativa que muitos tem em ser intelectual sem realmente gostar ou apreciar coisas inteligentes.
Ta bom, bem agradável de ler, so q da pra desenvolver a ideia mais um pouco. Abs